O que tem a comunicação com o rio
Sei que a comunicação não pode ser estanque e
ela varia como varia a sociedade ,com a atualidade tecnológica, com o local onde vivemos .Antigamente,
e isto não é tão longe assim, a comunicação era feita através de cartas ou
recados enviados oralmente ou por bilhetes.
Nas escolas eram ensinados a escrever uma
carta e bilhetes a amigos. Bilhetinhos para lá, bilhetinhos para cá.Comunicados
assinados, datados, cartas longas, curtas, cartões postais.O rádio era a
novidade e vi " o rádio de pilha " entrar nos ombros de meu pai que,
sorria dando um susto em mim e em minha mãe.
Rádio que nos acompanhou durante anos
seguidos. O tamanho qual um tijolo, cor de papel pardo não muito escuro, couro
cobrindo toda a superfície. Tinha uma alça para segurar e enfeites dourados. O
dial era uma grande circunferência transparente. As pilhas eram enormes e o som
bem alto. Nunca precisou de concerto e um belo dia parou. Ficou enfeitando o
armário até que não o vi mais.
Como tudo na vida há um tempo determinado
para findar.
Morávamos perto de um rio. Em suas margens eu
brinquei com outras crianças, vi peixinhos, os famosos barrigudinhos mas haviam
também os coloridos, com caudas longas bamboleantes. Do outro lado da margem
caminhões pegavam areia. meu pai dizia que era para ser usada em obras. Era bom
sentir o sol morno e brincar em suas margens de areia branca.
Interessante. Hoje este rio está manilhado,
desapareceram as margens, os peixes, a vegetação. Nos pés de mamonas nós
fazíamos guerra. haviam frutinhas que chamávamos de uvinhas do mato e que eram
adocicadas. E o melão de São João Caetano com suas semente vermelhinhas era uma
douçura. Os talos das folhas da mamona seriam para atirar bolinhas de papel ou
fazer flautas mágicas.Quando a chuva era forte demais o rio enchia, trazia
cães, cavalos, armários, troncos de árvores. Muitos animais não conseguiam
sobreviver à sua fúria, a água ficava escura, tremendamente escura. Muitas
vezes nossa casa chegou a ser inundada e me lembro que certa vez meu pai me
colocou em cima da mesa para que eu ficasse protegida das águas do rio. Depois
que as água baixavam íamos ver o que havia sobrado. O rio virava um mar em
fúria e depois se acalmava.Assim como eu ia até ele ele vinha até mim. Rio
danado cheio de lembranças infantis, hoje encanado.
Em alguns lugares ele ainda aparece e me traz
lembranças de um tempo que se foi e que só se encontra em um local escondidinho
de minha mente.
Há algum tempo atrás passei por cima dele,
tudo asfaltado, comércio e ruas foram abertas mas, tenho certeza que ele estava
lá como ainda vai estar mesmo quando meu corpo se acabar.
SolCira
18/07/2016
Faz parte do Livro Só 04
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