domingo, 3 de maio de 2020

O que tem a comunicação com o rio


O que tem a comunicação com o rio
Sei que a comunicação não pode ser estanque e ela varia como varia a sociedade ,com a atualidade  tecnológica, com o local onde vivemos .Antigamente, e isto não é tão longe assim, a comunicação era feita através de cartas ou recados enviados oralmente ou por bilhetes.
Nas escolas eram ensinados a escrever uma carta e bilhetes a amigos. Bilhetinhos para lá, bilhetinhos para cá.Comunicados assinados, datados, cartas longas, curtas, cartões postais.O rádio era a novidade e vi " o rádio de pilha " entrar nos ombros de meu pai que, sorria dando um susto em mim e em minha mãe.
Rádio que nos acompanhou durante anos seguidos. O tamanho qual um tijolo, cor de papel pardo não muito escuro, couro cobrindo toda a superfície. Tinha uma alça para segurar e enfeites dourados. O dial era uma grande circunferência transparente. As pilhas eram enormes e o som bem alto. Nunca precisou de concerto e um belo dia parou. Ficou enfeitando o armário até que não o vi mais.
Como tudo na vida há um tempo determinado para findar.
Morávamos perto de um rio. Em suas margens eu brinquei com outras crianças, vi peixinhos, os famosos barrigudinhos mas haviam também os coloridos, com caudas longas bamboleantes. Do outro lado da margem caminhões pegavam areia. meu pai dizia que era para ser usada em obras. Era bom sentir o sol morno e brincar em suas margens de areia branca.
Interessante. Hoje este rio está manilhado, desapareceram as margens, os peixes, a vegetação. Nos pés de mamonas nós fazíamos guerra. haviam frutinhas que chamávamos de uvinhas do mato e que eram adocicadas. E o melão de São João Caetano com suas semente vermelhinhas era uma douçura. Os talos das folhas da mamona seriam para atirar bolinhas de papel ou fazer flautas mágicas.Quando a chuva era forte demais o rio enchia, trazia cães, cavalos, armários, troncos de árvores. Muitos animais não conseguiam sobreviver à sua fúria, a água ficava escura, tremendamente escura. Muitas vezes nossa casa chegou a ser inundada e me lembro que certa vez meu pai me colocou em cima da mesa para que eu ficasse protegida das águas do rio. Depois que as água baixavam íamos ver o que havia sobrado. O rio virava um mar em fúria e depois se acalmava.Assim como eu ia até ele ele vinha até mim. Rio danado cheio de lembranças infantis, hoje encanado.
Em alguns lugares ele ainda aparece e me traz lembranças de um tempo que se foi e que só se encontra em um local escondidinho de minha mente.
Há algum tempo atrás passei por cima dele, tudo asfaltado, comércio e ruas foram abertas mas, tenho certeza que ele estava lá como ainda vai estar mesmo quando meu corpo se acabar.
SolCira
18/07/2016


Faz parte do Livro Só 04

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